O perfil da nova geração de residentes

Atualmente, podemos compreender o mundo através de diversos pontos de vista. E, muito mais do que antes, vivemos constantes mudanças e renovações. Na Residência Médica não é diferente e, em alguns casos, o conflito de gerações torna-se presente. Para evitar esse estresse entre médicos e residentes, é importante a adaptação. Em entrevista para a Revista da SBOT-SP, o ortopedista Kodi Kojima, que geralmente palestra sobre a nova geração de residentes, explica como fomentar um relacionamento de qualidade e de aprendizado entre os chefes de serviço e residentes. Segundo ele, é importante evoluir para um relacionamento diferente do que foi no século passado.

Confira abaixo.

Para você, qual é o novo perfil dos residentes?

Os residentes que estão iniciando agora o treinamento já pertencem a Geração Z, também conhecida como “zoomer” ou “centenial”. Segundo a literatura estudada, essa geração é mais pragmática, menos hedonista, mais dedicada, tem mais ética no trabalho e põe menor peso no balanço vida/trabalho. Devido ao maior uso de comunicação eletrônica (Instagram, Facebook, Twitter etc.) tem tendência a ser mais triste e mais solitária.

Quais são os desafios ao lidar com essa nova geração?

O maior desafio que vejo é que as pessoas de outras gerações (os mais velhos) entendam as diferenças e consigam se adaptar a elas. É muito claro que os zoomers são o que são e não vão mudar. Se temos a intenção de ensiná-los Ortopedia e Traumatologia precisamos aprender quais são os métodos de ensino que melhor se adaptam ao estilo de aprendizado deles.

Outro desafio são as ideias pré-estabelecidas sobre os zoomers que nem sempre são verdadeiras, por exemplo, que eles preferem o ensino a distância (via internet). Numa pesquisa feita com cerca de 300 residentes do Brasil, 60% responderam que prefere ensino presencial, 20% híbrido (presencial e a distância) e somente 15% somente a distância.

Como os médicos ortopedistas/chefes de serviço devem lidar com os residentes?

Creio que temos que evoluir para um relacionamento diferente do que foi no século passado quando fizemos a nossa residência. Cobrança excessiva e punições devem ser repensadas. Com essa geração, o feedback funciona bem. Devemos aprender como dar feedback de maneira adequada e construtiva. Os zoomers gostam de aprender fazendo e com aprendizado colaborativo. Portanto, a presença do staff no dia a dia do residente é fundamental. Devemos criar um ambiente seguro onde se possa falar, opinar, discordar e até errar, sem ser penalizado.

O que mudou e o que é importante ficar atento?

Está chegando uma nova geração com suas características e valores. Suas necessidades, relevâncias e prioridades precisam ser entendidas e o ensino deve levar isso em consideração.

Devemos criar um ambiente seguro onde se possa falar, opinar, discordar e até errar, sem ser penalizado”

Sobre Kodi Kojima

Graduado em Medicina pela Faculdade de Medicina de Botucatu, UNESP em 1985. Título de Ortopedia e Traumatologia pela Sociedade Brasileira de Ortopedia e Traumatologia em 1989. Mestrado pelo Instituto de Ortopedia e Traumatologia do HC-FMUSP em 1987. Doutorado na Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo em 2007. Membro da Sociedade Brasileira de Trauma Ortopédico, Sociedade Brasileira de Artroscopia e Traumatologia do Esporte. Presidente da Comissão Internacional de Educação da Fundação AO. Coordenador do Grupo de Trauma do Instituto de Ortopedia e Traumatologia do HC-FMUSP. Atuação ativa em comissões da SBOT e Regional São Paulo.